
Em “Pisque Duas Vezes”, mulheres inocentes são levadas para uma ilha tropical e abusadas por homens muito ricos. Embora o filme pareça estar “expondo” o que acontece em encontros da vida real, suas mensagens confere à história um significado diferente.
Aviso: spoilers montanhosos à frente!
“Pisque Duas Vezes” se apresenta desde o início com um tom contraditório. Logo nos primeiros minutos, o público é avisado de que assistirá a um “thriller psicológico sobre abuso de poder” com “violência sexual”. Em vez de ser uma aparente tentativa de empatia, é na prática uma forma de prometer a violência que pretende condenar.
A trama gira em torno de Cory St. Clair (interpretado por Channing Tatum), um magnata da tecnologia que convida um grupo de mulheres para sua ilha paradisíaca. Por trás do luxo, esconde-se perfumes que apagam a memória, drogas que anulam a força de vontade e corpos abusados. A narrativa reconstrói esses abusos em fragmentos, transmitindo a confusão e a impotência das vítimas. Nesse cenário isolado, a riqueza e o poder se tornam o álibi perfeito para a impunidade.
Mas “Pisque Duas Vezes” é distorcido. Ele finge denunciar o sistema enquanto o reproduz. As longas e explícitas sequências de estupro transformam o horror em fetiche. O sofrimento é exibido como espetáculo: corpos amarrados, gritos e agressões que parecem flertar com o voyeurismo. A Motion Picture Association chegou a classificar o filme como impróprio para menores de 17 anos por “conteúdo violento e agressão sexual explícita”.
O título original do filme era “Ilha das Vaginas”, o que já revela a essência do projeto. A ideia de “denunciar os poderosos em suas ilhas particulares” se perde em um tom quase cínico.
Embora o roteiro insista na trajetória de vingança das mulheres, a execução esvazia a denúncia. O realismo das cenas não serve à conscientização, mas ao impacto visual. As óbvias inspirações na ilha de Epstein são distorcidas, considerando que o tráfico sexual real da elite se transforma em um “filme de empoderamento”, temperado com piadas fora de contexto.
É importante lembrar que “Pisque Duas Vezes” é dirigido por Zoë Kravitz, filha de Lenny Kravitz e Lisa Bonet — uma herdeira do próprio sistema que tenta criticar.
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| Zoë Kravitz desfila no MET Gala (o principal encontro de peões da elite oculta) praticamente todos os anos. Aqui, ela está usando uma máscara frequentemente vista nas festas de máscaras da elite. |
Juntamente com E.T. Feigenbaum, Kravitz criou um produto que transforma as obsessões e fantasias da elite em entretenimento. “Pisque Duas Vezes” parece dizer “Estamos expondo o sistema”, quando na verdade está apenas glorificando-o em outro formato. O resultado é um filme que fala sobre controle mental baseado em trauma, mas que acaba fazendo parte do mesmo sistema que finge denunciar.
Aqui está uma visão geral dos principais temas do filme.
O Sucesso é a Melhor Vingança
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| Frida repete para si mesma o lema do filme: “O sucesso é a melhor vingança”. Isso assumirá um significado perturbador. |
Frida é a personagem central de “Pisque Duas Vezes”, uma garçonete que sonha em abrir seu próprio salão de beleza, enquanto a vida a empurra para um destino que ela jamais teria imaginado. A história começa com ela assistindo a um vídeo de Slater King, um bilionário da tecnologia que tenta limpar sua imagem após acusações de abuso de poder.
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| Frida observa Slater King se desculpando e dizendo que “procurou terapia”. Como veremos, sua “terapia” está relacionada ao controle mental baseado em traumas. Além disso, descobrimos que ele comprou uma ilha inteira para “se curar”. |
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| Enquanto isso, Frida está sentada no vaso sanitário e, por um breve momento, vemos um livro chamado “O sucesso é a melhor vingança”, de Vanessa Maxwell, uma autora fictícia. |
O título é um spoiler do destino da protagonista. No final, o filme sugere que a vitória não vem da destruição do opressor, mas sim da sua substituição. O sobrenome da autora fictícia, “Maxwell”, evoca uma associação nada acidental: Ghislaine Maxwell, cúmplice de Epstein. O objetivo não é libertar-se do sistema, mas sim perpetuá-lo.
Enquanto Frida trabalha, toca ao fundo a música B.B. King “Pagando o Custo Para Ser o Chefe”. A trilha sonora não é aleatória: ela resume o lema do filme. Frida será a próxima “chefe”, mas terá que pagar um preço alto por isso. E, de fato, ela já pagou. Ela foi estuprada na ilha de Slater no passado, mas sua memória foi apagada.
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| Enquanto se prepara para o trabalho, ela diz ironicamente que “não consegue apagar magicamente as m*rdas da sua mente”. Sua memória foi apagada no passado. |
No primeiro ato, Frida participa de um evento organizado pela empresa de Slater. O cenário é pura loucura da elite oculta.
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| O evento é apresentado por Saul Williams, que está usando um vestido porque eles adoram ver homens negros usando vestidos. Atrás dele está a Pietà de Michelangelo, que retrata a Virgem Maria segurando Jesus. Veremos mais adiante como essa escultura é simbólica. |
Após o evento, Frida e sua amiga Jessie, em busca de visibilidade, aproximam-se de Slater. Ao lado do bilionário e de seu misterioso “terapeuta”, Rich Stein, ela parece alheia ao fato de estar cercada por predadores. O convite para a ilha surge como um prêmio, e Frida aceita sem hesitar. Lá, o ambiente é de um paraíso hedonista, com drogas e festas.
Logo, Frida começa a notar sinais: corpos machucados, memórias incoerentes e olhares vazios. À noite, ocorrem abusos; pela manhã, o esquecimento é imposto. Elas acordam sorrindo, como se tivessem sido reprogramadas.
Alguns podem perguntar: elas não sentiriam dores em algumas partes do corpo, mesmo que suas memórias fossem apagadas? A resposta é sim, mas não vamos nos aprofundar nas falhas do roteiro, senão ficaremos aqui o dia todo. De qualquer forma, este filme não se trata de um enredo impecável, mas sim de transmitir mensagens através do simbolismo.
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| As memórias das vítimas são apagadas usando um perfume chamado Desideria (que significa desejo). Ele é feito a partir de uma flor vermelha encontrada apenas naquela ilha. |
A cor desta flor torna-se um símbolo no filme: vermelho como trauma, sangue e controle. Em “Pisque Duas Vezes”, o vermelho representa a fronteira entre o que é lembrado e o que é esquecido.
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| A assistente de Slater, Stacy, é a Ghislaine Maxwell do grupo. Ela é a mulher que facilita o abuso, deixando as vítimas à vontade. Ela costuma usar roupas vermelhas vibrantes para indicar que faz parte do sistema. |
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| Enquanto Frida explora a ilha, ela passa por uma pintura assustadora que retrata a perda de memória das vítimas devido à flor vermelha. |
Os poderosos sempre transformam seus pecados em estética. Assim como colecionadores e políticos da vida real exibem pinturas de canibalismo e tortura em nome da “liberdade artística”, o universo de Slater é uma galeria onde a depravação é celebrada com pinturas.
No filme, se o vermelho destrói a memória, o amarelo a restaura.
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| Os hóspedes privilegiados “criam memórias” tirando fotos com uma câmera Polaroid amarela durante toda a sua estadia. Aqui, Christian Slater está usando uma toalha amarela enquanto faz o oposto de apagar memórias. |
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| O antídoto para o perfume que causa perda de memória é o veneno das víboras de cílios amarelas. O amarelo simboliza a verdade e a recuperação da memória. |
A alternância dualística entre as cores vermelha e amarela espelha a alternância do escravo sob controle mental entre trauma e dissociação. E aqueles que passam por isso frequentemente acabam perpetuando esse ciclo.
Tomando o Lugar
Como vimos em artigos anteriores, os manipuladores MK costumam ser eles próprios vítimas de controle mental. De forma sutil e perversa, aqueles que sofrem o trauma também aprendem a reproduzi-lo. Em “Pisque Duas Vezes”, Slater King não é apenas o predador da história, mas também um produto do mesmo mecanismo de controle mental que impõe aos outros.
Durante uma conversa aparentemente casual com Frida, ele deixa escapar fragmentos de sua própria programação. Ele fala de terapia com desdém, como se a ideia de confrontar o passado fosse possível apenas para aqueles que ainda se lembram do que perderam:
– Mas concordo com você sobre essa história de terapia convencional. Não é bem a minha praia. O Rich é mais um terapeuta especializado em traumas. Sabe, ele é especialista em perda de memória.– O que você não consegue lembrar?– Praticamente nada antes dos 10 anos. Então imagino que tenha sido algo bem ruim.– Por que você gostaria de se lembrar? Eu pagaria para esquecer.– Talvez você tenha razão. Talvez esquecer seja um presente
Mais tarde, revela-se que Slater sofreu abuso sexual por parte de seu treinador de tênis na infância. O trauma não resolvido transformou-se em vício, e agora ele faz aos outros o que lhe foi feito, sob o pretexto de “terapia experimental”. O próprio “tratamento” que ele promove é, na verdade, uma reprodução exata do abuso que sofreu.
Então, o filme inverte os papéis. Depois de ingerir o veneno amarelo das víboras, Frida desperta para o horror que vivenciou. O que se segue é uma revolta sangrenta vendida ao público como catarse, mas moldada pelo pseudofeminismo de Hollywood.
Ao colocar mulheres contra homens, o filme carece de verdadeira redenção. Em vez da suposta vitória de Frida ser libertação, é sobre substituição.
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| Após a revolta, quase todos estão mortos, exceto Frida e Slater, porque ela propositalmente poupou a vida dele. Observe como os personagens estão posicionados à esquerda. Na cena seguinte, vemos novamente a escultura da Pietà. Slater é o Jesus Cristo de Frida. |
Na cena final, o ciclo se fecha. Um novo evento da King-Tech acontece no mesmo cenário. Mas agora, outra pessoa está no comando do império.
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| Frida é agora a CEO da King-Tech, e Slater é seu escravo obediente e controlado mentalmente. |
Frida agora carrega consigo o perfume Desideria, o mesmo instrumento de apagamento de memórias que outrora a aprisionou, e veste preto — a cor do fim dos rituais de iniciação, um símbolo de completa absorção na escuridão.
No final, nada mudou e o sistema permanece intacto. A única diferença é que a escrava se tornou a manipuladora.
Conclusão
No final de “Pisque Duas Vezes”, Frida não revela a verdade, não liberta ninguém e não confronta o sistema corrupto. Ela simplesmente assume o trono, empunhando as mesmas armas daqueles que a prejudicaram. É assim que o filme disfarça sua mensagem central: o mal não é vencido, apenas ganha um novo rosto.
A jornada de Frida, que começa como uma promessa de justiça, termina como um manual de ascensão dentro da própria estrutura de abuso que ela deveria combater. A vingança se transforma em desejo de poder, e o público, encantado por discursos de empoderamento e diversidade, acaba aplaudindo o que a trama deveria denunciar.
Em última análise, “Pisque Duas Vezes” é um espelho perfeito de Hollywood, uma indústria que finge estar indignada com o inferno que ela mesma criou. Em vez de condenar a corrupção moral da elite, o filme a estetiza, transforma-a em espetáculo e fetiche.
O que mais se pode esperar de pessoas que deram a um filme inspirado no antro pedófilo de Epstein o nome sexy de “Ilha das Vaginas”?
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